segunda-feira, 24 de março de 2014



Do amor e da razão
I
Alimentar o íntimo com sutilezas
Isso pode ser o início?
Isso pode ser o fim?
Olhar para dentro e contar constelações, inspirar-se.
Sentir um arrepio em todo o ser
Sublimar ínfimos gestos...
Todo fim pode ser um início
Depende do que seja o início
Depende do que seja o fim...
Essas sutilezas
Esses ínfimos gestos
Que alguém em alguma parte do mundo os trouxe
São símbolos que não estavam perdidos
Estavam apenas ocultos
Em algum terreno fértil

Tudo o que se planta, se colhe...

Que o que se plantou seja agora transformado no que se amou, embora sendo o início.
Que o caminho percorrido seja de um amor intenso, vivo.
Assim como os espinhos compõem a rosa
Assim será composto esse amor
Profundo como os abismos oceânicos
Desafiador como uma jornada no deserto
Leve como as asas de uma borboleta

Deixe-se que esse amor
Seja por si só o fim, o começo,
Que seja um mergulho nas profundezas marinhas
Que seja uma viagem no deserto, embora não se estando só...
Estando-se livre então
Abrem-se as asas
Exploram-se constelações
Conhece-se a fonte do amor...

Elegia

Constelações
Lugar propício para embalar os sonhos
Dentro dos meus sonhos
 Tu sonhavas um caminho, uma estrada...
Deparas-te com alguém
Quem será?
Sabes que o caminho é frio, escuro,
Lugar fértil onde os sonhos se assimilam
Nele tu necessitas
Libertar-te...

Esse alguém poderia dar-te asas,
Ser teu movimento
Ser cúmplice dos teus sonhos
Contigo sonhar

Descobre-se então nesse universo onírico
Que esses sonhos habitavam em alguém
Que te amava tanto... E, no entanto,
Nem mesmo sonhavas com quem tanto te queria bem

Olhas então para essas mãos vazias... a poesia concreta do sonho que se perdeu. Não são preenchidas pelo amor de quem sonhou. Que elas enfim descansem na verdade que te concedo, nos limites do cárcere em que vives. Terás então que descobrir quem te sonhava... Quando do sonho despertar, verás claramente que perdeste.

Que será mesmo amor? A certeza de algo sendo compartilhado? Segredos, mistérios, sublimação? Ou verdades da vida que ao sol-posto perdem a sabedoria? Fatigada de sempre tentar lança-me aos abismos oceânicos, procuro então compreender essas verdades, em posição neutra. Neutralidade forçada... Intensa, necessito resguardar-me, e nada mais faço para atrair-te ao céu que ainda te disfarço.

Não mais poderás te libertar. Viverás com o fino tecido do coração de outro entremeado ao teu. Viverás então com a certeza de que não podes viver assim, incompleto. Desejarás retornar ao mesmo sonho que sonhaste, então já será tarde. Não quiseste unir teu coração, de fato, então terás que enfrentar o enigma da esfinge, agora dizendo: “te mato”.

Está tudo acabado, bem sabemos, mas tudo bem. A morte do amor existe quando nos recusamos a nos lançar no seu abismo. A vida do amor existe quando queremos nele e com ele viver. Conviver. Rio que corre e se renova- eis o amor. O que se amou não mais se tira de nós. Somos indissolúveis, porém distantes. Entretanto, sei que amor também tem olhos no passado.

Amei, me entreguei, a mim me pertenci... Tive tudo em dobro, dois corações, pensamentos. Renasci. De nós eu ressurgi, por isso continuo te levando em mim.

Amor não é vento...

Tudo o que foi intensamente vivido
Restou-nos isso- o sentimento
Em que de novo te surpreendo em mim
E toda a beleza do que se viveu
Enriqueceu-me, de haver te amado assim.

Redenção
Porém, nem tudo está perdido, amor,
Somos iguais, criaturas de Deus.
Percorremos léguas em busca de amor
O que nos completa
Está dentro de nós
Mas não se ama sozinho...

Mais uma vez pergunto: que será mesmo amor?
E respondo: Amor. Pura e simplesmente
É ser, para si e para o outro,
Dois fazerem com que a luz interna aumente

Amor, não mais precisas sonhar,
Nem adivinhar quem te querias bem
Presente eu vou estar
Ajudar-te a enxergar
Que para mim tu és mais que alguém

Serei tua luz, teu movimento, teu espelho,
Se apenas quiseres que eu seja
Terás então a certeza
De que não estás só

E do que se viveu, renascerá a beleza,
Abrirás as asas. Terás força. Conhecerás a fonte do amor.
Finalmente tens a mim!


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