terça-feira, 11 de março de 2014

Houve um tempo em que minhas janelas mostravam jardins. Eram jardins de sonhos ocultos durante a noite.
Sonhos. Houve um tempo em que eu mesma achava que amar era habitar o sonho do outro e fecunda-lo. Agora sei que é preciso mais que isso. É preciso saber se os sonhos do outro são dignos de realização, de mérito. E se são puros, livres...
Havia uma mulher e seus sonhos. Há algum tempo ela sonhava durante a noite. Hoje ela já não dorme. Enquanto ela mancha e joga fora alguns dos papéis em que ensaia algum de seus rabiscos, sofregamente ela procura manter-se em posição neutra. Garrafa de vinho ao lado, rubro, quente. Sedutor.
Intensa, ela relembra-se de algumas de suas histórias, algumas delas não escritas em papéis. Mas a linha da vida, inscrita nas paredes de seu coração, não negam: há momentos em que os sonhos não se mostram mais em imagens arquetípicas gravadas no subconsciente. Eles vem com tudo, rasgam o véu inconsciente. E esses sonhos passam a ter vida.
Quem sonha, deseja. E seus desejos, visceralmente expostos nas páginas da vida, passaram a ser bela e intensamente vividos. Tudo parecia ser um sonho. E era... Mais um sonho não realizado (ela sonhou que quem a sonhava nem mesmo a queria bem...)
Existem sim sonhos indignos de realização, sonhos inférteis. Improdutivos. Nem sempre o que parece ser rubro, quente, sedutor é digno, puro, livre...
Então, a taça onde repousa o vinho até a borda vira, manchando os brancos lençóis de linho. O que será agora? Mais um coração que sofrendo, sangra? Um sonho que transborda e se desperdiça durante a noite? Não sei. Mas eu mesma sei que ainda existe a esperança, que movimenta a noite, e transforma os sonhos...

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